Portfólio de Orientador de Internato Médico
O presente portfólio foi elaborado no âmbito do Curso Avançado de Formadores de Internato Médico (CAF-IM), com o objetivo de sistematizar a minha prática como orientador de internos de Psiquiatria e de refletir criticamente sobre o meu percurso, aprendizagens e metas futuras nesta função. Este trabalho constitui simultaneamente um exercício de autorreflexão e um compromisso com o desenvolvimento profissional contínuo, alinhado com os princípios e metodologias explorados ao longo do curso.
Enquanto especialista em Psiquiatria na Unidade Local de Saúde do Arco Ribeirinho, tenho desempenhado o papel de orientador de internato, procurando criar ambientes de aprendizagem seguros, exigentes e colaborativos. Através da integração das propostas trabalhadas nos diversos módulos do CAF-IM, este portfólio reúne evidências do trabalho desenvolvido, fundamenta opções pedagógicas, identifica áreas de melhoria e estrutura um plano de evolução enquanto orientador.
O curso CAF-IM estrutura-se em nove módulos, cada um com objetivos específicos orientados para o desenvolvimento de competências pedagógicas, comunicacionais, avaliativas e organizacionais dos orientadores de internato. O percurso ao longo dos diferentes módulos permitiu-me explorar dimensões essenciais da orientação médica, como o planeamento formativo, a relação pedagógica, a avaliação contínua, a comunicação eficaz e o desenvolvimento profissional.
Entre os trabalhos desenvolvidos, destaco:
Módulo 2: Identificação de competências-chave do orientador e estratégias para o seu desenvolvimento. Este trabalho foi um ponto de partida estruturante para a definição do meu perfil enquanto orientador.
Módulo 3: Elaboração de um plano de acolhimento e integração do interno, adaptado ao contexto da Psiquiatria, com propostas concretas de métodos e instrumentos.
Módulo 4: Reflexão sobre estilos de supervisão e aplicação de instrumentos de autoavaliação, com impacto direto na minha forma de conceber e praticar a supervisão clínica.
Módulo 5: Desenvolvimento de uma proposta para fomentar ambientes colaborativos entre orientadores, reforçando a articulação pedagógica e a partilha de boas práticas.
Módulo 6: Análise crítica dos critérios de avaliação existentes no internato, com foco na necessidade de maior objetividade, clareza e equidade nos processos avaliativos.
Módulo 7: Planeamento estruturado de uma sessão de formação para internos e especialistas, com base em objetivos pedagógicos definidos e metodologias ativas de aprendizagem.
Módulo 8: Primeira versão de uma grelha de avaliação formativa, que se encontra ainda em desenvolvimento e será aprofundada em colaboração com outros orientadores.
Estes trabalhos contribuíram para uma maior sistematização da minha intervenção como orientador, permitindo-me refletir de forma crítica sobre a prática formativa, identificar áreas de melhoria e construir instrumentos pedagógicos mais consistentes e intencionais. para uma maior sistematização da minha intervenção como orientador, permitindo-me refletir de forma crítica sobre a prática formativa, identificar áreas de melhoria e construir instrumentos pedagógicos mais consistentes e intencionais.
Com base no trabalho desenvolvido no Módulo 2, identifiquei um conjunto de competências que considero estruturantes para o desempenho eficaz do papel de orientador de internato médico. Este exercício levou-me não apenas a selecionar áreas que valorizo na minha prática, mas também a refletir criticamente sobre o modo como estas se manifestam no quotidiano formativo e sobre o que posso fazer para as desenvolver de forma mais intencional.
As competências que destaco são:
Capacidade de dar e receber feedback eficaz: fundamental para o crescimento do interno e para o desenvolvimento de uma relação pedagógica autêntica. Requer escuta ativa, empatia e clareza comunicacional. Pretendo praticar o feedback como processo contínuo, formativo e colaborativo.
Promoção da autonomia do interno: implica encontrar o equilíbrio entre supervisão próxima e espaço para a experimentação responsável. A autonomia não é concedida automaticamente, mas construída gradualmente, e deve ser acompanhada de oportunidades de reflexão e de responsabilização.
Planeamento e monitorização da aprendizagem: envolve a definição conjunta de objetivos, a adaptação dos métodos de ensino à fase formativa e à singularidade do interno, e a verificação regular do progresso. Esta competência exige organização, mas também flexibilidade.
Fomento da reflexividade e da aprendizagem colaborativa: promover uma postura crítica e reflexiva perante a prática clínica é essencial para formar profissionais conscientes e éticos. A aprendizagem entre pares e a co-construção do saber são estratégias que valorizo e que pretendo integrar de forma mais sistemática.
Durante o curso, tomei contacto com ferramentas como a Cartografia de Competências, que me ajudaram a clarificar o modo como estas competências se articulam, bem como com modelos como a Janela de Johari, que destacam a importância do autoconhecimento e do feedback interpares. A apropriação destes instrumentos será um dos eixos do meu desenvolvimento como orientador.
Estas competências foram selecionadas por corresponderem a áreas onde reconheço impacto direto na formação do interno e pelas quais me sinto responsável enquanto facilitador de crescimento profissional. Ao incluí-las neste portfólio, comprometo-me a mantê-las como referência orientadora da minha prática futura.
Plano de Acolhimento
Elaborei um plano estruturado de acolhimento com o objetivo de facilitar a integração do interno no serviço e estabelecer, desde o início, uma relação pedagógica clara, transparente e orientada para o desenvolvimento. Este plano inclui um questionário de expectativas a ser preenchido e discutido na primeira reunião, permitindo alinhar desde cedo as motivações, receios e objetivos do interno com as possibilidades formativas do serviço.
Inclui também a apresentação dos principais objetivos da especialidade e dos recursos de formação disponíveis, bem como uma introdução ao funcionamento do serviço e às suas rotinas clínicas. Procuro definir em conjunto com o interno um conjunto de metas realistas e progressivas para o estágio, adaptadas à sua fase formativa e ao seu perfil.
No que diz respeito aos métodos de ensino-aprendizagem, proponho um leque de abordagens que inclui observação direta, discussão de casos, estudo orientado, leitura crítica de artigos e, progressivamente, prática supervisionada. Estes métodos são escolhidos tendo em conta as particularidades da Psiquiatria e são sempre discutidos com o interno.
Por fim, são também apresentados os métodos de avaliação que poderão vir a ser utilizados, promovendo desde o início uma cultura de acompanhamento contínuo, com feedback estruturado e espaço para autoavaliação. Este plano é revisto periodicamente e ajustado consoante a evolução do interno e as necessidades que vão emergindo durante o estágio.
Estilos de Supervisão
No âmbito do Módulo 4, explorei diferentes estilos de supervisão – "militar", "turista", "mestre de obras" e "explorador" – utilizados como caricaturas críticas de posturas reais frequentemente observadas na prática formativa. Esta tipologia, embora útil como ferramenta de análise, evidenciou as limitações de cada estilo: autoritarismo, ausência de direção, rigidez despersonalizada ou idealismo ingênuo. Nesse sentido, a minha reflexão levou-me a rejeitar a adesão a qualquer destes modelos como referência. Em alternativa, comprometo-me com uma abordagem consciente, crítica e ajustada à relação pedagógica, centrada nas necessidades formativas do interno e nas exigências clínicas do contexto. Privilegio a flexibilidade, a escuta ativa e a construção partilhada de objetivos como pilares da minha supervisão.
Ambientes Colaborativos
Considero fundamental promover uma cultura formativa baseada na colaboração, na partilha de conhecimento e no apoio mútuo entre profissionais. Ao longo da minha experiência como orientador, tenho procurado fomentar práticas colaborativas dentro da equipa de Psiquiatria, valorizando espaços informais de discussão clínica, momentos de co-reflexão sobre casos e decisões partilhadas nos contextos de supervisão.
Acredito que ambientes colaborativos potenciam a aprendizagem ao proporcionarem um espaço seguro para colocar dúvidas, propor ideias e discutir limitações. Têm também um papel importante na modelagem de comportamentos profissionais, permitindo que os internos observem e participem em dinâmicas de trabalho que privilegiam a escuta ativa, o respeito pela diversidade de perspetivas e a construção coletiva de soluções.
Neste sentido, vejo como prioritária a criação de condições que favoreçam a colaboração interpares entre orientadores, bem como entre orientadores e internos. A existência de uma cultura de apoio mútuo, onde o erro é encarado como oportunidade de aprendizagem e onde há espaço para o reconhecimento do contributo de cada um, é, na minha visão, indispensável para uma formação médica de qualidade.
No seguimento desta reflexão, desenvolvi no Módulo 5 uma proposta que visa consolidar esta abordagem colaborativa através de iniciativas concretas entre orientadores da especialidade, com o objetivo de reforçar a articulação pedagógica, a coerência avaliativa e a qualidade formativa no internato de Psiquiatria.
Atualmente, tenho em desenvolvimento uma grelha de avaliação formativa centrada num único parâmetro de avaliação — o "Interesse pela valorização profissional" —, que contempla seis critérios-chave. Ainda não comecei a aplicá-la, uma vez que a grelha está incompleta. Falta incluir os restantes parâmetros de avaliação necessários para abranger de forma adequada o desempenho global do interno. A intenção é que, quando finalizada, possa ser utilizada de forma trimestral e discutida com o interno em reuniões de supervisão. A autoavaliação semestral está prevista como componente complementar deste processo e poderá constituir uma ferramenta relevante para a promoção da autorreflexão.
Reconheço, no entanto, que a grelha está ainda em construção. Pretendo desenvolvê-la de forma mais abrangente, incorporando outros parâmetros de avaliação pertinentes ao desempenho global do interno. Este trabalho será realizado em articulação com outros orientadores de Psiquiatria, de modo a garantir uma construção partilhada, fundamentada e ajustada às exigências formativas da especialidade.
Tenho vindo a implementar uma cultura de feedback regular, empático e bidirecional, com base no modelo de Timothy Clark sobre segurança psicológica.
Tenho procurado desenvolver-me continuamente enquanto orientador, investindo em processos de autorreflexão, atualização pedagógica e aprendizagem entre pares. A participação no curso CAF-IM representou um marco importante nesse percurso, ao proporcionar ferramentas teóricas e práticas que me permitiram consolidar e expandir a minha abordagem formativa.
Pretendo utilizar instrumentos de autoavaliação para identificar áreas fortes e pontos a melhorar na minha prática de orientação. Estes instrumentos, aliados à reflexão sistemática sobre os desafios e sucessos no acompanhamento dos internos, têm-me ajudado a estabelecer metas de desenvolvimento profissional específicas e monitorizáveis.
Adicionalmente, valorizo a aprendizagem colaborativa entre orientadores. Tenho procurado envolver-me em redes informais de partilha de boas práticas e estou empenhado em contribuir para a criação de dinâmicas de apoio mútuo e crescimento partilhado no seio da equipa de orientação da minha instituição.
Considero essencial manter uma atitude de abertura à inovação pedagógica e ao feedback dos colegas e dos internos, integrando essas contribuições na melhoria contínua da minha atuação enquanto orientador.
O curso CAF-IM constituiu uma oportunidade valiosa de aprofundamento das minhas competências pedagógicas e de consolidação da minha identidade enquanto orientador. A diversidade temática dos módulos, a riqueza das trocas entre colegas e os desafios propostos ao longo do percurso proporcionaram momentos significativos de aprendizagem e autorreflexão.
Este portfólio reflete esse processo, materializando a minha intenção de assumir a orientação como uma prática estruturada, consciente e em permanente evolução. Através do trabalho desenvolvido, reconheci pontos fortes, identifiquei áreas de melhoria e tracei metas concretas para o meu desenvolvimento futuro, nomeadamente no que respeita à criação de instrumentos pedagógicos mais robustos, à promoção de ambientes colaborativos e à utilização sistemática de processos avaliativos justos e formativos.
Pretendo dar continuidade a este percurso, investindo em formação contínua, na partilha entre pares e na construção de uma cultura pedagógica mais coesa e reflexiva no internato de Psiquiatria. A orientação não é, para mim, uma função acessória, mas uma responsabilidade estruturante na formação dos futuros especialistas. Este portfólio é um passo nesse compromisso.